Félix Tshisekedi é reeleito na RDC enquanto África enfrenta desafios políticos persistentes
Kinshasa, RDC — Félix Tshisekedi foi declarado vencedor das eleições presidenciais na República Democrática do Congo (RDC), garantindo um segundo mandato à frente de um país vasto e rico em recursos, mas que continua imerso em desafios políticos, sociais e de segurança. A reeleição de Tshisekedi marca um momento decisivo não apenas para o Congo, mas também para a região da África Central, onde a estabilidade política ainda é uma meta distante. Eu
De acordo com os resultados oficiais divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), Tshisekedi obteve mais de 70% dos votos, superando os demais candidatos em uma disputa que teve momentos de tensão, acusações de irregularidades e uma participação popular que, apesar do cansaço político, mostrou resiliência.
A oposição, liderada por nomes como Moïse Katumbi e Martin Fayulu, contestou imediatamente os resultados, alegando fraudes no processo e apelando à comunidade internacional para acompanhar de perto os desdobramentos. "Este resultado não reflete a vontade do povo congolês", afirmou Fayulu, que já havia se declarado vencedor nas eleições de 2018.
Apesar das contestações, multidões favoráveis a Tshisekedi saíram às ruas de Kinshasa para comemorar a vitória, dançando e entoando cânticos de apoio ao presidente reeleito. Em seu discurso, Tshisekedi prometeu dar continuidade aos esforços de pacificação das regiões leste do país, onde grupos armados continuam a ameaçar a população civil.
"Nossa prioridade será devolver a paz às famílias congolesas. A segurança nacional não pode mais esperar", declarou o presidente, referindo-se especialmente à província de Kivu do Norte, assolada por confrontos entre o exército e milícias locais.
Mas a vitória de Tshisekedi ocorre em um continente onde os problemas parecem se renovar a cada ciclo eleitoral. De Angola a Moçambique, passando por países como o Sudão, Burkina Faso e Níger, a instabilidade política, os golpes de Estado e as crises humanitárias continuam a assombrar o continente africano.
Em Angola, protestos recentes em Luanda refletem o descontentamento popular com as condições econômicas e a percepção de corrupção nas altas esferas do poder. Embora o governo angolano tente manter uma imagem de estabilidade, a juventude do país vem se organizando em movimentos de contestação.
Já em Moçambique, os conflitos armados em Cabo Delgado continuam, apesar das ações conjuntas das Forças Armadas moçambicanas e tropas estrangeiras. A violência de grupos extremistas tem forçado milhares de famílias a deixarem suas casas, agravando a crise humanitária.
No Sudão, um ano após o colapso do governo civil, o país ainda se encontra mergulhado em confrontos entre militares e paramilitares, num cenário que ameaça provocar uma guerra civil de grandes proporções.
Para muitos observadores, a reeleição de Tshisekedi pode ser lida como um sinal de continuidade em meio ao caos. “A RDC tem um papel estratégico na África. Estabilidade no Congo é vital para a região dos Grandes Lagos”, explica o analista político Jean-Pierre Mulumba.
Contudo, analistas também alertam que sem reformas profundas, a vitória nas urnas pode rapidamente se tornar um fardo. A expectativa da população por empregos, serviços públicos e segurança é enorme. O novo mandato de Tshisekedi será julgado não apenas pelos números da eleição, mas pelos resultados concretos que poderá entregar nos próximos anos.
Além das questões internas, Tshisekedi também enfrentará desafios diplomáticos. O Congo tem disputas territoriais com Ruanda e Burundi, além de tensões comerciais com países vizinhos. A presença de multinacionais nas regiões mineradoras também é alvo de críticas por conta da exploração dos recursos naturais sem retorno palpável para as populações locais.
“Ganhar eleições é apenas o começo. O verdadeiro teste será governar para todos os congoleses, com justiça e transparência”, comenta Florence Tshibuabua, professora da Universidade de Kinshasa.
A comunidade internacional, liderada pela União Africana e pelas Nações Unidas, acompanha de perto os próximos passos. Organismos internacionais pediram calma à oposição e defenderam que qualquer contestação seja feita por vias legais.
Mesmo com a vitória eleitoral, o continente continua sendo um terreno marcado por contradições. Enquanto líderes celebram vitórias nas urnas, populações clamam por justiça social, paz e dignidade. Na visão de muitos africanos, como expressa um jovem ativista em Maputo: “Aqui os problemas não acabam. Parece que cada solução vem acompanhada de novos obstáculos”.
Na RDC, o povo deu seu veredicto nas urnas. Agora, cabe a Félix Tshisekedi mostrar que é possível governar com mais que palavras. O continente observa, atento — e cansado de promessas.
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