Fontes internas apontam envolvimento de membros da Frelimo em ataque a viaturas


Maputo — Informações obtidas de fontes próximas ao partido no poder em Moçambique revelam que o recente ataque envolvendo a queima de viaturas pode ter origem dentro da própria Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). A denúncia, ainda não confirmada oficialmente, está a gerar intensas discussões nos bastidores da política nacional e levanta sérias questões sobre disputas internas e instabilidade dentro do partido.

O incidente, que ocorreu durante a madrugada de segunda-feira, resultou na destruição total de pelo menos quatro viaturas estacionadas na zona centro da cidade. Testemunhas relataram ter ouvido explosões e viram colunas de fumo subindo no céu escuro antes da chegada das autoridades. Nenhum grupo havia reivindicado a autoria do ataque até o momento em que os rumores começaram a circular sobre a possibilidade de que a ação tivesse sido executada por uma ala dissidente dentro da própria Frelimo.

Fontes sob condição de anonimato, por medo de represálias, indicaram que há um crescente clima de tensão entre diferentes facções dentro do partido. “O que está a acontecer não é novo. Há meses que se nota um clima de desconfiança entre dirigentes locais e quadros seniores”, disse uma das fontes. “Este ataque parece ser mais do que um simples ato de vandalismo. É uma mensagem política”.

O ataque ocorreu poucos dias depois de uma reunião do Comitê Central do partido, na qual divergências sobre estratégias eleitorais e sucessões internas vieram à tona. O episódio reacende especulações sobre lutas pelo poder entre diferentes grupos políticos dentro da Frelimo, especialmente à medida que se aproximam as eleições gerais de 2025.

Embora a polícia tenha iniciado uma investigação formal, até agora não houve detenções nem pronunciamentos oficiais que confirmem as causas ou autores do incidente. No entanto, analistas políticos apontam que o silêncio das autoridades pode indicar o caráter delicado da situação. “Se realmente for um ato interno, torna-se uma bomba-relógio. O partido terá que decidir se expõe ou silencia os culpados”, analisou um especialista em política moçambicana.

A oposição também reagiu rapidamente. Representantes de partidos rivais pediram transparência nas investigações e alertaram para o risco de o país entrar numa espiral de violência política. “É grave que se comecem a usar métodos como estes para resolver disputas internas. Isto põe em causa a estabilidade do país”, declarou um membro do Renamo.

Entretanto, a comunicação social estatal evitou dar destaque ao caso, o que tem sido criticado por organizações de direitos humanos e imprensa independente. “Há um esforço claro de abafamento da informação. Mas não se pode esconder fogo com fumo. A verdade virá à tona”, disse um jornalista que acompanha a cena política há mais de duas décadas.

Nos bastidores da Frelimo, os dirigentes mantêm-se em silêncio, mas sabe-se que houve reuniões de emergência desde o ataque. Alguns membros do partido estariam a pressionar pela expulsão de supostos envolvidos, enquanto outros pedem contenção até que a polícia conclua as investigações. A divisão interna, no entanto, parece mais evidente a cada dia.

A crise atual junta-se a uma série de escândalos que têm abalado o partido nos últimos anos, incluindo denúncias de corrupção, má gestão de fundos públicos e exclusão de quadros considerados críticos às lideranças dominantes. “O partido já não fala a uma só voz. Existem vários Frelimos dentro da Frelimo”, comentou outro analista.

Caso se confirme o envolvimento de membros do partido, o episódio pode marcar um ponto de viragem na história política recente do país. A Frelimo, que governou Moçambique desde a independência em 1975, enfrenta agora talvez um dos seus maiores desafios internos em décadas.

A população, por sua vez, reage com apreensão. Muitos temem que o ambiente político se torne ainda mais instável e que a violência se torne uma ferramenta comum de disputa. “Estamos cansados. O povo quer paz, desenvolvimento e emprego, não guerras políticas entre quem já está no poder”, afirmou uma moradora da capital.

Nas redes sociais, o assunto tornou-se viral, com milhares de comentários, partilhas e teorias sobre os motivos e autores do ataque. Grupos civis estão a organizar manifestações simbólicas pedindo esclarecimentos urgentes sobre o caso.

Até o final da tarde desta terça-feira, nem o Presidente da República nem o Secretário-Geral da Frelimo haviam se pronunciado sobre o ocorrido. O silêncio da liderança máxima do partido é interpretado por muitos como um sinal de que o caso é realmente sensível.

Enquanto isso, cresce a expectativa em torno das conclusões preliminares da investigação. A Procuradoria-Geral da República já foi instada por organizações da sociedade civil a garantir a imparcialidade e celeridade do processo. “Este não é apenas um crime contra propriedade. É um atentado à democracia”, afirmou a diretora de uma ONG local.

Especialistas alertam que o desfecho desse caso pode redefinir o cenário político em Moçambique. Se for comprovada a participação de membros da Frelimo no ataque, o partido terá que lidar com profundas consequências internas e externas.

Por ora, a principal pergunta permanece sem resposta: quem ordenou e executou o ataque? E, talvez mais importante, por quê