Trump propõe fechar 30 embaixadas e África poderá perder seis: Moçambique e Angola buscam novos aliados
Maputo / Luanda — O ex-presidente norte-americano Donald Trump voltou a agitar a diplomacia internacional com uma proposta polêmica: o encerramento de 30 embaixadas dos Estados Unidos espalhadas pelo mundo. O plano, apresentado por sua equipe de política externa como uma estratégia de "racionalização e foco em prioridades nacionais", afetaria diretamente o continente africano, onde seis representações diplomáticas estão listadas para serem encerradas.
Embora Trump ainda não tenha reassumido o poder — estando atualmente em campanha pela presidência nas eleições de 2024 —, o esboço do plano já causa apreensão em várias capitais. A proposta indica uma possível mudança radical na abordagem diplomática dos EUA, com foco reduzido em regiões que, segundo o documento, “não oferecem retorno estratégico imediato aos interesses americanos”.
Entre os países africanos mencionados como prováveis alvos dos encerramentos estão nações da África Austral e Ocidental, embora os detalhes específicos ainda estejam sob confidencialidade. Fontes próximas ao ex-presidente indicam que os critérios para seleção baseiam-se em interesses econômicos, influência geopolítica e estabilidade regional.
Lideranças africanas respondem com alternativas
Frente ao risco de isolamento diplomático por parte de Washington, lideranças de países africanos como Moçambique e Angola têm reagido com pragmatismo. Fontes dos ministérios dos Negócios Estrangeiros dos dois países confirmam que os governos não pretendem esperar pela concretização da proposta americana para agir.
No caso moçambicano, o presidente da Assembleia da República, ACJ, tem liderado uma série de encontros estratégicos com representantes de países emergentes. Segundo fontes diplomáticas em Maputo, ACJ tem sinalizado forte interesse em estreitar relações com nações como a Rússia, Burkina Faso e outros países que adotam políticas de cooperação baseadas em princípios multipolares.
Da mesma forma, em Angola, VM7 — codinome usado por analistas para se referir ao atual chefe da diplomacia angolana — tem intensificado diálogos com parceiros não ocidentais. A Rússia e a China aparecem como atores centrais nesta nova fase diplomática, mas também há indicações de aproximações com Turquia, Irã e Emirados Árabes Unidos.
Nova era: fim da “ocidentalização” forçada?
A proposta de Trump — ainda que não oficializada — parece ter servido como um catalisador para que diversos líderes africanos revisitem suas estratégias de política externa. Muitos analistas consideram que o continente pode estar à beira de um realinhamento histórico, abandonando gradualmente a tradicional dependência das potências ocidentais.
“É um erro pensar que os países africanos vão apenas aceitar passivamente o afastamento dos Estados Unidos. Ao contrário, vemos uma movimentação intensa para preencher esse vácuo com novas alianças, mais equilibradas e baseadas na inclusão global”, afirma o professor Daniel Nguenha, especialista em Relações Internacionais da Universidade Eduardo Mondlane.
O especialista acredita que este novo momento representa uma oportunidade para África construir uma política externa mais soberana, menos refém de modelos ocidentais. “É hora de parar de agir como se fôssemos europeus. O continente precisa afirmar sua identidade geopolítica de forma independente”, acrescenta.
Memória curta? Relações antigas em risco
Contudo, a pressa com que alguns países africanos parecem romper com os tradicionais parceiros do Ocidente também gera críticas. Observadores internacionais apontam que o afastamento das potências ocidentais pode não ser tão simples, considerando o legado histórico e os vínculos de cooperação de décadas.
“É necessário repensar sim, mas com equilíbrio. Muitos dos benefícios sociais, educacionais e até mesmo de segurança que os países africanos conquistaram nas últimas décadas vieram de programas financiados pelos Estados Unidos e União Europeia”, pondera a analista política angolana Sara Lemos.
Ela adverte que o entusiasmo por uma nova ordem mundial não pode apagar as relações construídas com antigos parceiros. “Não se pode esquecer que foram esses mesmos ‘donos antigos’ que abriram portas em
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